terça-feira, 22 de dezembro de 2015

'Lampião' traz humor do Piauí

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São Paulo, segunda-feira, 1 de dezembro de 1997
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'Lampião' traz humor do Piauí


NELSON DE SÁ 
DO ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

O Piauí é o Estado mais pobre da federação e chega a ser uma surpresa que mantenha, como ficou demonstrado no festival de Recife, um teatro com produções regulares, como a peça "Auto de Lampião no Além".
O grupo Harém, do diretor Arimatan Martins, com uma década de existência, esforça-se em seu repertório para identificar e reunir o que seria a tradição teatral piauiense, ainda que seus autores e demais artistas tenham se espalhado pelo Brasil.
Assim, conta entre suas peças com adaptações de nomes como o do poeta piauiense Torquato Neto. Da mesma maneira, recorre para as suas produções a profissionais como o iluminador de teatro Maneco Quinderé.
Mas é ainda um teatro de enraizamento muito restrito na pequena Teresina. E a maior amostra de sua limitação está nas interpretações de "Auto de Lampião no Além" -espetáculo que já havia sido mostrado um mês antes em São Paulo, na ampla mostra de "diversidade" patrocinada pelo Ministério da Cultura.
São atores em sua maioria iniciantes, formados há pouco pela própria companhia de Arimatan Martins, o que se distingue claramente na apresentação.
O texto tem a sua singularidade piauiense, sobretudo no humor garantido pela dupla de "demônios", ou melhor, pelo próprio Lúcifer e por seu cão Gasolina -este o de melhor efeito cômico.
A peça, escrita por um autor contemporâneo, Gomes Campos, no que é a nova aposta do grupo Harém (uma nova dramaturgia piauiense), mostra a chegada de Lampião e seus cangaceiros ao inferno, logo depois de terem sido expulsos do céu. Lampião, uma sensual Maria Bonita e o restante do bando lutam com os exércitos do inferno e destronam Satanás.
O humor entre ingênuo e matreiro -em que sobram referências aos fatos do dia- dos demônios é o melhor do espetáculo. Nem tanto, porém, a representação algo caricatural e folclórica, no mau sentido, dos cangaceiros.
É buscada uma alegoria a mais clara possível da realidade. "Sempre fui um diabo de gabinete", lamenta-se o covarde Lúcifer, em meio à luta. O presidente Fernando Henrique Cardoso é mencionado em diversas passagens.
(NS) 

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